terça-feira, 30 de agosto de 2011
Poncha, túneis e praias de pedra.
Neste período do ano é natural que esteja a pensar no local onde irá para passar as suas férias. A minha recomendação é que vá para a Madeira porque, para além de estar a ajudar a economia nacional, foi aqui que passei um dos melhores fins de tarde da minha vida.
Quem conhece a Ilha da Madeira sabe que por vezes existem uns fins de tarde fantásticos. A causa poderá ser da temperatura amena que nos aquece na exacta medida, ou do sol que com esforço espreita por entre as nuvens que, ora estão densas, ora estão transparente proporcionado paisagens únicas. Ou da mudança repentina de luminosidade? Sim, um fim de tarde na Madeira tanto pode ser de um escuro quase aterrador como, de repente, de uma claridade angelical.
O local que vos falo, e onde passei um desses fins de tarde, chama-se Praia Formosa.
Para descobrir esta praia tive que descer uma longa escadaria de pedra. De um lado fui observando umas casas de um branco cal com telhados azuis e de outro lado o mar. E foi no mar que repararei num conjunto de pessoas que tranquilamente festejavam este fim de tarde. Não estavam particularmente deslumbrados, possivelmente por serem habitantes locais. Simplesmente aproveitavam o calor e a água das piscinas naturais construídas no meio das rochas.
Foi então que decidi que era o momento ideal para provar a tradicional e famosa poncha. Parei no primeiro café do lado direito e já com a poncha encostei-me a umas pedras a observar todos os elementos da paisagem.
Terminei a poncha e continuei a descer a escadaria. No final descobri que para ter acesso à praia teria que entrar num túnel rasgado na extremidade da rocha. Entrei. Os primeiros passos foram de algum receio, até porque não tinha nenhuma informação sobre o que iria encontrar a seguir. A missão era clara: encontrar a saída o mais rapidamente possível.
Este túnel mais parecia uma gruta, até porque tinha o piso ligeiramente molhado por umas pingas que teimavam em cair por entre as paredes. Foi um percurso solitário, mas não silencioso. Ao fundo ouvia o som da ondas do mar a quebrar entre as rochas. Nesta altura interroguei-me sobre como era possível dentro de uma gruta ouvir estes sons. Rapidamente descobri que quem construiu este túnel teve a inteligência de rasgar umas “janelas” de pedra pelas quais irrompe o som das ondas, bem como uma violenta luminosidade. A vista é deslumbrante. Imaginem que no meio da escuridão quase absoluta existe uma janela para uma baia que o mar teimou em construir.
Mais alguns passos e percebo a origem da luz que entra pelo túnel. Tenho, então, a primeira visão da praia formosa. Nada de areia, como é habitual na Madeira, nada de infra-estruturas e nada de multidões. Comparado com o túnel estreito o espaço que se abre à minha frente é esmagador, o que causa um certo desconforto. Tento habituar-me a esta imensidão. De repente olho para trás e vejo o túnel do qual acabei de sair, naquilo que me parece ser a única entrada para o mundo que deixei para trás.
Paro e sinto que o mundo parou comigo. Fico algum tempo a observar tudo à minha volta e percebo que já passaram três horas. Inesquecível.
Apesar do meu esforço ao escrever este artigo, a verdade é que não é possível descrever com exactidão este final de tarde. Resta-me que acredite que vale a pena ir à Madeira, e à Praia Formosa, e que nesse dia tenha a oportunidade de passar um destes fins de tarde inesquecíveis.
Boas férias.
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