quinta-feira, 31 de março de 2011

Enviar currículos ou criar o próprio negócio?




Uma atitude empreendedora pode contribuir para a criação líquida de emprego, bem como para aumentar a competitividade e o crescimento económico de um país.
Portugal precisa que sejam criadas novas empresas com capacidade de lançarem projectos criativos e inovadores. Mas existe um grande obstáculo a este desafio: é mais fácil enviar currículos do que correr o risco de criar o próprio negócio.

Ao contrário do que muitos defendem, penso que temos em Portugal as condições estruturais favoráveis para a criação de novas empresas. Se não vejamos: fontes de financiamento diversificadas para a criação de novas empresas, incentivos fiscais de descriminação positiva para a criação de postos de trabalho, enumeras iniciativas públicas, sobretudo regionais, de apoio ao empreendedorismo, excelentes casos de incorporação da formação sobre temáticas ligadas ao empreendedorismo no sistema educativo, um aumento exponencial da cooperação entre o ensino superior e o empresarial (o que permite o acesso das empresas a melhores tecnologias e processos), uma diminuição das barreiras à entrada, como por exemplo a recente eliminação da exigência de capital mínimo para a constituição de uma empresa e, não menos importante, um acesso facilitado a infra-estruturas físicas, como por exemplo as incubadores, os parques empresariais ou os clusters.
Penso, assim, que o problema não está nas condições estruturais favoráveis para a criação de novas empresas mas nas normas sociais e culturais vigentes que desencorajam as iniciativas individuais para a criação de novos negócios e actividades económicas. O conceito de estabilidade está associado à manutenção do mesmo emprego durante um longo período, temos uma cultura de dependência associada a uma enorme aversão ao risco e uma imagem negativa do empresário e do trabalho.
E são estas normas que levam a que, por exemplo, muitos desempregados optem por enviar currículos durante um ano, em vez de investirem esse tempo na tentativa de criarem o seu próprio negócio.

O empreendedorismo vai muito além da criação de negócios. Reflecte uma atitude e uma forma de pensar a sociedade e o papel que cada um pode ter na construção de um país melhor. E a questão é: vai continuar a enviar currículos ou começar a pensar em criar o seu próprio negócio?

quarta-feira, 23 de março de 2011

Conceição “à Rasca”



A Conceição tem 57 anos, exerceu a actividade de trabalhadora do serviço doméstico, (vulgo empregada doméstica), teve um contrato de trabalho celebrado por escrito com uma entidade empregadora, em regime de tempo inteiro (que foi comunicado à Segurança Social), auferiu um salário real mensal entre 70% e 250% do IAS e declarou os seus rendimentos para efeitos de IRS. Actualmente está desempregada mas não tem direito a subsídio de desemprego porque tem mais de 50 anos.

Esta situação foi colocada à Segurança Social que confirmou a impossibilidade de receber o subsídio de desemprego e sugeriu que requeresse o Rendimento Social de Inserção, ou seja, o apoio para os indivíduos e famílias mais pobres. Acontece que a Conceição não reúne as condições para aceder ao Rendimento Social. Foi então apresentada uma solução alternativa: requerer a pensão de velhice antecipada. Analisados os requisitos para ser possível receber esta pensão, chegou à conclusão que também não pode usufruir deste “benefício”, porque:
 Não tem 30 anos de descontos aos 55 anos;
 Não exerce uma actividade profissional de natureza penosa ou desgastante (mineiros, trabalhadores marítimos, profissionais de pesca, controladores de tráfego aéreo, bailarinos, trabalhadores portuários, bordadeiras da Madeira, trabalhadores aduaneiros, pilotos de aviação civil);

Acresce, ainda, que só pode requer a reforma aos 65 anos. Está desesperada e desiludida com os poderes políticos, sobretudo com o “legislador” que se lembrou das bordadeiras da Madeira (profissão de desgaste) mas não das empregadas domésticas.

Resumindo:
A Conceição tem 57 anos. Trabalha desde os 12 anos de idade. Tem cerca de 20 anos de descontos. Não tem acesso ao subsídio de desemprego, ao rendimento social de inserção, à pensão de velhice antecipada, à reforma antecipada, nem à reforma. Está desempregada e quer continuar a exercer a sua actividade profissional, mesmo sem direitos ou protecção.

Tudo isto vem a propósito de algumas exigências feitas pela chamada “Geração à Rasca” que focaliza o seu discurso muitos mais nos direitos do que nos deveres, e que se esquece de muitos situações como a que aqui é relatada. É caso para dizer: “pobre do menino licenciado que não consegue encontrar um emprego na sua área”.

Celso Guedes de Carvalho
23 de Março de 2011

Empresas e Administração Pública passam a ser obrigadas a responder a todas as candidaturas de emprego



Precisamos de dar mais valor às pessoas e contribuir para humanizar as organizações, gerindo os recursos humanos como centros de geração de valor e não como centros de custo. Não se trata aqui de um estilo de gestão, mas sim da implementação de princípios que poderão ajudar as empresas, a atrair, desenvolver e manter os melhores profissionais e, com isso, tornarem-se mais competitivas.

A necessidade de encontrar factores competitivos e diferenciadores tornou-se fundamental para que as organizações consigam sobreviver. Uma das abordagens à Responsabilidade Social das Organização procura responder a este desafio defendendo que a implementação de acções socialmente responsáveis pode tornar as empresas mais competitivas e bem sucedidas.

A Responsabilidade Social das Organização é encarada como uma forma de estas demonstrarem que actuam no mercado de forma sustentável e que valorizam a sua dimensão social, nomeadamente respeitando a comunidade que a constitui. Mas para avaliarmos a responsabilidade social das organizações temos de verificar quais são os comportamentos que adoptam voluntariamente e não apenas os que são impostos legalmente. E a questão subjacente é a seguinte: que princípios e normativos éticos devem as organizações seguir? Que actuações são mais correctas para o bem da sociedade?

Penso que uma das actuações que as organizações devem corrigir é a forma como gerem o relacionamento com todos aqueles que se candidatam aos processos de recrutamento. Não faz sentido que as organizações continuem a “mal tratar” estes candidatos quando simplesmente não fazem o follow-up das candidaturas. Uma das preocupações das organizações deveria ser a de “tratar bem” quem se interessa pela actividade que desenvolvem e que demonstram o interesse em dar o seu contributo. E é tão simples de o fazer…basta enviar um e-mail.
Para facilitar a implementação deste procedimento proponho o seguinte texto de resposta: “No âmbito da sua candidatura gostaríamos de agradecer a disponibilidade e interesse manifestado para colaborar com a nossa organização. Apesar do interesse que nos suscitam os seus elementos curriculares, lamentamos informar que não foi seleccionado para exercer a função a que se candidatou. Agradecendo uma vez mais a sua atenção, realizamos votos de sucessos profissionais e pessoais”.


Será que é preciso legislar no sentido de obrigar as Empresas e a Administração Pública a responder a todas as candidaturas de emprego?

Celso Guedes de Carvalho
16 de Março de 2011

Desempregados passam a ter preferência nas admissões da função pública


Todos os dias são admitidos novos colaboradores na função pública com base em critérios que protegem grupos instalados e que impedem o acesso dos desempregados a esses empregos públicos. Para além de outras razões e do atropelo à igualdade de oportunidades, é a actual situação do País que exige a alteração destas situações.

Actualmente é dada prioridade no preenchimento das vagas de emprego público aos trabalhadores que possuam uma relação jurídica de emprego público por tempo indeterminado. E, no caso dos militares em Regime de Contrato (que tenham prestado serviço efectivo pelo período mínimo de cinco anos) é dada preferência, em caso de igualdade de classificação final, nos concursos externos abertos em qualquer dos serviços e organismos da administração central, regional e local, incluindo institutos públicos.

É essencial continuar a reforma do mercado de trabalho de forma a torná-lo mais ágil na contratação de desempregados. Sendo certo que é do crescimento da economia que depende a criação de emprego, há iniciativas que podem e devem ser adoptadas, nomeadamente as de desbloqueio dos mecanismos impeditivos da entrada dos jovens na vida profissional.

Um serviço público que reflicta a diversidade da comunidade que serve será mais capaz de prestar serviços de qualidade aos cidadãos. Qualquer organização que pretenda ter uma perspectiva de futuro tem de procurar optimizar o contributo potencial da sua base de recrutamento na globalidade.

Propõem-se, assim, que os desempregados inscritos nos Centros de Emprego passem a ter prioridade no preenchimento das vagas de emprego público, face aos trabalhadores que possuam uma relação jurídica de emprego público, e a ter preferência, em caso de igualdade de classificação final, nos concursos externos abertos em qualquer dos serviços e organismos da administração central, regional e local, incluindo institutos públicos.

Adicionalmente propõem-se uma reflexão sobre a criação de incentivos para que a administração local passe a contratar desempregados inscritos nos Centros de Emprego. Recordo que as empresas são contempladas com incentivos à contratação, sem termo, de desempregados inscritos nos centros de emprego há mais de seis meses (ou 9 meses no caso de terem mais de 40 anos) através da concessão de um apoio directo no montante de 2500 euros. Será que a administração local não estaria interessada neste incentivo?

Celso Guedes de Carvalho
8 de Março de 2011

Voluntariado Político




Os partidos políticos são organizações chave na nossa democracia. São o espaço por excelência onde os cidadãos podem apresentar, debater e escolher ideias e soluções.
Precisamos assim de acabar com a ideia de que ´eles´, os políticos, são os responsáveis por todos os males e ´nós´, os cidadãos, as inocentes vítimas.
Acredito que a prática de voluntariado político poderá ser uma das possíveis respostas para aproximar os cidadãos da política. Mas, mais do que argumentos, apresento cinco exemplos de voluntariado político.
Comecemos pelos Orçamentos Participativos. Esta ideia propõe um novo modelo de governação da cidade que convida os cidadãos a intervirem em parte do orçamento de uma comunidade. É uma prática de democracia directa e voluntária que já funciona em mais de 15 órgãos autárquicos, inclusive na Câmara Municipal de Lisboa onde já vai na 4.ª edição e com uma dotação anual de cinco milhões de euros.

O segundo exemplo é a candidatura Cidadãos por Lisboa. Recordo que em 2007 realizaram-se eleições intercalares para o Município de Lisboa e, apesar das doze candidaturas concorrentes, ouve 62,6% de abstenção. Esta candidatura, liderada por Helena Roseta, foi a quarta mais votada e conseguiu obter 10,2% dos votos, um resultado superior ao obtido pelo CDS e pelo PCP.
Mais recentemente tivemos a surpreendente candidatura de Fernando Nobre à Presidência da República. Sem apoios partidários conseguiu mobilizar cidadãos anónimos e uma excelente equipa de voluntários e obter 593.142 dos votos.

E porque não ensinar política às crianças (8 aos 14 anos)? Jorge Sampaio, ex-Presidente da República, provou que é possível. Escreveu O meu livro de política com respostas a questões simples e com o objectivo de despertar o interesse pelo exercício da cidadania junto dos cidadãos que vão decidir o futuro. Porque o fez? Por dever cívico.
O último exemplo de voluntariado político é o movimento Adere, Vota e Intervém dentro de um Partido. O seu promotor, João Nogueira Santos, acredita que se não participarmos nos partidos políticos acabamos por ser governados pelos menos habilitados.

Estes “gritos de cidadania”, no seu conjunto, deixaram uma herança, implementaram ideias transformadoras, permitiram promover a democracia e a participação cívica, e contribuíram para a apresentação de propostas que influenciaram o comportamento dos políticos, a agenda, as decisões e a própria representação eleitoral.

Mas há sempre alguém que não quer participar. Que arranja desculpas e que opta por desperdiçar o potencial do seu contributo. Acredito que não é o seu caso pelo que fico a aguardar o seu testemunho de voluntariado político, das suas acções de intervenção comunitária realizadas de forma desinteressada e que contribuíram para melhorar a organização e o comando da sociedade.

Celso Guedes de Carvalho
1 de Março de 2011