segunda-feira, 30 de maio de 2011

Política de verdade – versão 2011


De acordo com o artigo 53.º da Lei Eleitoral da Assembleia da República, o período da campanha eleitoral inicia-se no 14.º dia anterior ao dia designado para as eleições que, no caso das legislativas de 2011, foi a 22 de Maio, e finda às 24 horas da antevéspera do dia designado para as eleições, ou seja, o próximo dia 3 de Junho.

Estranho. E eu que pensei que já estávamos em campanha eleitoral.
Já assisti a debates na televisão entre os líderes partidários. Já li sondagens publicadas. Em quase todos os blocos noticiosos assisto a iniciativas e comícios partidários com apelo ao voto, mas, segundo a Comissão Nacional de Eleições, não estivemos em campanha eleitoral. É por estas e por outras que não se respeitam as leis em Portugal.

Fique então a saber que, por exemplo, até o dia 18 de Maio as Juntas de Freguesia devem estabelecer os locais de afixação de cartazes, fotografias, jornais murais, manifestos e avisos. Mas a verdade é que ninguém respeita.
E que até o dia 5 de Junho os partidos políticos estão proibidos de fazer propaganda política, directa ou indirectamente, através dos meios de publicidade comercial (seja isso lá o que for). Mas, uma vez mais, ninguém cumpre.
Para respeitar os eleitores e diminuir o índice de rejeição aos partidos políticos, é necessário que estes comecem por respeitar as regras estabelecidas.

Também é verdade que todos os partidos políticos dizem que querem fazer uma campanha construtiva e pela positiva evitando, assim, o afastamento dos eleitores. Acontece que não a isso que temos assistido nesta campanha. Aliás, não a isso que assistimos em todas as campanhas eleitorais.
Há falta de argumentos surgem o insulto e a demagogia. E, particularmente nestas eleições, surgem os “argumentos fáceis”. Até parece que os partidos do “arco do governo” deixaram de ser sociais-democratas e passaram a ser de extrema-direita.
Os argumentos que apresentam são “basistas” e são utilizados com o objectivo de criarem ruído para que não se discutam as propostas dos seus programas eleitorais.
Mas a verdade é que também não adiantaria que discutissem detalhadamente as propostas e as promessas que propõem aos eleitores porque, uma vez no poder, encontram sempre desculpas para não cumprirem o prometido.
Haja paciência.

Mais vale mal acompanhado, do que só


“Nenhum de nós é tão inteligente quanto todos nós juntos”. Esta frase de Warren Bennis resume uma verdade inquestionável mas que as empresas se esquecem com muita frequência.

Vários autores defendem a importância de disseminar um pensamento criativo nas empresas, nomeadamente através da análise, da combinação de conceitos e da utilização de equipas multidisciplinares para a resolução de problemas. Quando se trazem os conceitos e os problemas para um território novo, e desconhecido, ganha-se uma nova perspectiva.

Quando trabalhei na área da publicidade, e tinha de apresentar uma campanha a um cliente, procurava sempre a opinião do “Sr. do café do lado”, da “senhora de limpeza” ou da “telefonista”. Estes “cidadãos comuns”, dado o distanciamento do problema (execução da campanha), conseguiam descobrir pequenos erros de informação/ comunicação que tinham passado despercebidos a toda a equipa. Este precioso contributo, neste caso na fase final do projecto, permitia corrigir erros mas também melhorar o trabalho final e, no caso dos contributos da equipa interna, disseminar um pensamento criativo.

A criação de uma equipa multidisciplinar, ou seja um grupo de pessoas com vários níveis e especializações, reunidos sob orientação de um especialista, subentende a definição de um ponto de encontro para a colaboração entre todos, bem como a eliminação de barreiras interpessoais de comunicação, sempre com o objectivo de serem atingidos os objectivos definidos. O valor dessa equipa irá decorrer da qualidade individual de cada um dos seus elementos, mas também do cruzamento que, progressivamente, cada um vai criando com os demais.

Considero a criação de equipas multidisciplinar um valor inquestionável para qualquer instituição, uma vez que permite que cada elemento contribua com o seu saber, a sua área de especialização, e muitas vezes “apenas” com o seu “senso comum”, potenciando, assim, os vários recursos existentes numa empresa. E mesmo que o contributo não seja considerado válido para a resolução de um problema, poderá sê-lo para a resolução de um outro num futuro próximo. Por isso “mais vale mal acompanhado, do que só”.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Afinal o tamanho conta


O acesso à informação é politicamente menos relevante do que o acesso às conversas. Assim, e para efeitos de score eleitoral, é mais importante ter presença mediática, “ser notícia”, do que ter o melhor programa de governo. Vem isto a propósito da cobertura jornalística da pré-campanha e da campanha eleitoral das legislativas 2011.

A RTP1, a SIC e a TVI, os três canais generalistas que têm obrigações de serviço público, decidiram realizar um ciclo de debates com os líderes dos cinco partidos com assento parlamentar. Mas esqueceram-se dos partidos sem assento parlamentar e que concorrem às eleições de 5 de Junho. Recordo que nas próximas eleições vão estar em disputa dezassete “partidos políticos”, sendo que apenas nove apresentaram candidaturas aos vinte e dois círculos eleitorais: PS, PSD, CDS-PP, BE, PCTP-MRPP, Movimento Esperança Portugal (MEP), Movimento Partido da Terra (MPT), Partido Popular Monárquico (PPM), Partido Nacional Renovador (PNR) e a CDU (PCP e PEV).

Após a apresentação de vários protestos, os três canais generalistas chegaram a acordo para a realização de um conjunto de entrevistas e um debate entre os representantes dos “partidos políticos” sem assento parlamentar,

Tendo em conta que as campanhas eleitorais se fazem para e pela televisão, estar em debates é fundamental. Assim devem ser asseguradas, nomeadamente pela Comissão Nacional de Eleições e pela Alta Autoridade para a Comunicação Social, as condições de acesso, em situações de igualdade, a todos os partidos políticos que apresentem candidaturas em todos os 22 círculos eleitorais. Ou seja, todos os “partidos políticos” que reúnam esta condição de representatividade devem ter a oportunidade de debater entre eles, pelo que devem ser encontradas formas criativas de o assegurar. Desta forma estaremos a criar condições para que os portugueses possam votar com total liberdade de escolha, uma vez que tiveram, pelo menos no que diz respeito ao serviço público de televisão, o acesso à mensagem de todos os “partidos políticos” de âmbito nacional que concorrem às eleições.

Até porque convém não esquecer que os partidos com assento parlamentar um dia já foram pequenos.

A culpa é do Governo?


O título deste artigo não é novidade nenhuma mas serve para resumir alguns casos de más práticas na gestão de serviços públicos e privados, e demonstram que a culpa “só morre solteira” porque deixamos que assim seja.

Portugal já só consegue financiamento externo e com taxas acima dos 10%. Recordo que foi o próprio Ministro das Finanças a afirmar que era insustentável recorrer a financiamentos acima dos 7%. Estamos, com dificuldade, a tentar obter um empréstimo de 80 mil milhões de euros para pagar os compromissos já assumidos. O governo pediu a demissão e a Assembleia da República foi dissolvida. Dia 5 de Junho temos eleições.
Face a este cenário era expectável que ganhássemos juízo, que acordássemos para a dura realidade e corrigíssemos o rumo. Infelizmente os sinais não são animadores.

Começou com a tolerância de ponto. Tolerância quer dizer que ninguém vai trabalhar…conceito estranho. E assim foi, sobretudo na administração pública que existe para servir os cidadãos. Vem isto a propósito da minha tentativa frustrada de, durante 5 dias (no último fim-de-semana prolongado), ir a uma piscina municipal.
Estes equipamentos são geridos por empresas municipais, essa coisa estranha que foi criada para gerir melhor os activos dos municípios e que acabam por replicar o que de pior tem a administração pública. Na quinta-feira só funcionaram da parte da manhã e sexta-feira, sábado, domingo e segunda estiveram fechados. Recorri então aos operadores privados, julgando eu que ao menos estes precisavam de clientes. Mas enganei-me. Fiz cinco tentativas e apenas consegui encontrar dois ginásios (com piscina) abertos ao sábado (os restantes dias estavam fechados). Num dos casos pediram-me € 15 euros por duas horas de utilização (para mim e para o meu filho de dois anos), e um outro que me ofereceu um dia gratuito de utilização.

Um outro episódio, igualmente interessante, aconteceu-me quando tive que recorrer à urgência de um Hospital Privado e, na recepção, assisti a um telefonema surreal. Uma cliente estava a pedir ao recepcionista que lhe indicasse o caminho para o Hospital. Nada mais simples, pensei eu. Mas não. O recepcionista achou que não fazia parte das suas funções dar indicações sobre a melhor forma da cliente se dirigir ao Hospital e, desta forma, contribuir para pagar os ordenados dos funcionários que estavam ao serviço. Face ao pedido da cliente o funcionário limitou-se a dizer: “quando chegar ao Marquês pergunte como chegar até aqui”. E desligou.
Suspeito que esta também deve ser uma daquelas empresas que atribui aos outros o facto de não terem clientes.

Somos rápidos a exigir os nossos direitos e muito lentos a cumprir os nossos deveres. Somos rápidos a atribuir as culpas aos outros e muito lentos a assumir as nossas responsabilidades.

É por estas e por outras que não saímos da “cepa torta” e que chegamos ao absurdo de termos que ser governados por outros.