terça-feira, 30 de agosto de 2011

Poncha, túneis e praias de pedra.




Neste período do ano é natural que esteja a pensar no local onde irá para passar as suas férias. A minha recomendação é que vá para a Madeira porque, para além de estar a ajudar a economia nacional, foi aqui que passei um dos melhores fins de tarde da minha vida.

Quem conhece a Ilha da Madeira sabe que por vezes existem uns fins de tarde fantásticos. A causa poderá ser da temperatura amena que nos aquece na exacta medida, ou do sol que com esforço espreita por entre as nuvens que, ora estão densas, ora estão transparente proporcionado paisagens únicas. Ou da mudança repentina de luminosidade? Sim, um fim de tarde na Madeira tanto pode ser de um escuro quase aterrador como, de repente, de uma claridade angelical.

O local que vos falo, e onde passei um desses fins de tarde, chama-se Praia Formosa.
Para descobrir esta praia tive que descer uma longa escadaria de pedra. De um lado fui observando umas casas de um branco cal com telhados azuis e de outro lado o mar. E foi no mar que repararei num conjunto de pessoas que tranquilamente festejavam este fim de tarde. Não estavam particularmente deslumbrados, possivelmente por serem habitantes locais. Simplesmente aproveitavam o calor e a água das piscinas naturais construídas no meio das rochas.
Foi então que decidi que era o momento ideal para provar a tradicional e famosa poncha. Parei no primeiro café do lado direito e já com a poncha encostei-me a umas pedras a observar todos os elementos da paisagem.

Terminei a poncha e continuei a descer a escadaria. No final descobri que para ter acesso à praia teria que entrar num túnel rasgado na extremidade da rocha. Entrei. Os primeiros passos foram de algum receio, até porque não tinha nenhuma informação sobre o que iria encontrar a seguir. A missão era clara: encontrar a saída o mais rapidamente possível.
Este túnel mais parecia uma gruta, até porque tinha o piso ligeiramente molhado por umas pingas que teimavam em cair por entre as paredes. Foi um percurso solitário, mas não silencioso. Ao fundo ouvia o som da ondas do mar a quebrar entre as rochas. Nesta altura interroguei-me sobre como era possível dentro de uma gruta ouvir estes sons. Rapidamente descobri que quem construiu este túnel teve a inteligência de rasgar umas “janelas” de pedra pelas quais irrompe o som das ondas, bem como uma violenta luminosidade. A vista é deslumbrante. Imaginem que no meio da escuridão quase absoluta existe uma janela para uma baia que o mar teimou em construir.
Mais alguns passos e percebo a origem da luz que entra pelo túnel. Tenho, então, a primeira visão da praia formosa. Nada de areia, como é habitual na Madeira, nada de infra-estruturas e nada de multidões. Comparado com o túnel estreito o espaço que se abre à minha frente é esmagador, o que causa um certo desconforto. Tento habituar-me a esta imensidão. De repente olho para trás e vejo o túnel do qual acabei de sair, naquilo que me parece ser a única entrada para o mundo que deixei para trás.

Paro e sinto que o mundo parou comigo. Fico algum tempo a observar tudo à minha volta e percebo que já passaram três horas. Inesquecível.

Apesar do meu esforço ao escrever este artigo, a verdade é que não é possível descrever com exactidão este final de tarde. Resta-me que acredite que vale a pena ir à Madeira, e à Praia Formosa, e que nesse dia tenha a oportunidade de passar um destes fins de tarde inesquecíveis.




Boas férias.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O marketing tem as costas largas.


O marketing tem as costas largas. Se um político faz uma promessa e não cumpre, a culpa é do marketing. Se uma empresa apresenta uma proposta comercial com um determinado beneficio que depois não se verifica, a culpa é do marketing.

O marketing está na moda. Esta pode ser uma das razões que explica a confusão à volta da definição desta ciência e do contributo que pode dar ás empresas e à sociedade em geral. O conceito de marketing não é claro para as empresas nem para os cidadãos. Ora está associado às questões comerciais ora à comunicação.
Defendo que a principal explicação para este fenómeno é a necessidade que todos temos de inserir um conceito numa das nossas “gavetas cognitivas”.

Kotler, Armstrong e Saunders (com os quais concordo), definiram o marketing como “a função que identifica as necessidades e desejos dos consumidores, determina quais os mercados alvo que poderá servir melhor e cria os produtos, serviços e programas apropriados”.
Com base nesta definição poderemos admitir que uma empresa com orientação de marketing é capaz de vender os seus serviços ou produtos porque consegue identificar (por exemplo através de estudos de opinião) e apresentar soluções que vão ao encontro das necessidades do mercado (consumidores/ empresas). Ao tentar conhecer melhor o consumidor uma empresa estará, assim, a potenciar os seus resultados e a contribuir para uma maior satisfação dos consumidores.

Para que uma empresa seja competitiva é essencial que os bens e serviços que coloca no mercado tenham valor acrescentado. E a inovação assume aqui um papel determinante para a criação desse valor, pelo que é fundamental incutir nas empresas a necessidade de uma procura constante de novos produtos, serviços e processos, que permitam transformar o conhecimento em valor económico. A inovação só pode induzir competitividade tecnológica e industrial, estável e duradoura, se estiver orientada para aplicações e mercados concretos.

Cruzando as possibilidades oferecidas pelas descobertas tecnológicas, com a análise das necessidades de aplicações e mercados, será possível conseguir uma correcta definição de produtos e serviços. E esta premissa é valida quer do ponto de vista da sua utilização, quer do ponto de vista do seu conteúdo tecnológico.

Desta forma será produzida tecnologia com valor económico e social e com fortes possibilidade de contribuir para o desenvolvimento e competitividade de um território.

O que não nos mata, torna-nos mais fortes.


O empreendedorismo é um motor fundamental para o desenvolvimento económico e social sustentado de um país ou região, sobretudo pela sua capacidade de geração de riqueza, de criação de emprego e de valor. Contudo convém ter presente que quando se fala de empreendedorismo, é necessário falar do agente fundamental para a sua promoção, ou seja, o empreendedor.

A ignição para ser empreendedor é a atitude que se tem perante os desafios que a vida nos coloca e, simultaneamente, a capacidade para desenvolver uma cultura de inovação, alicerçada na capacidade para detectar e explorar novas oportunidades, para assumir riscos e para mobilizar os recursos necessários à concretização de uma ideia de negócio.

A adversidade económica está a modificar a forma como os portugueses encaram o desemprego e a levá-los a arriscar serem empreendedores. Em 2010 foram cerca de cinco mil os que trocaram o subsídio de desemprego e que apostaram na criação de uma empresa. Acontece que muitos destes, numa tentativa de minimizar o risco, optam por modelos de negócio já testados, recorrendo por isso ao franchising. Em grande parte dos casos, as empresas fecham porque os seus mentores não estão preparados para as exigências de uma vida como empreendedor e, ainda, pela notória ausência de inovação.

A adopção da inovação é concebida como um processo que inclui criação, desenvolvimento e implementação de novas ideias ou comportamentos. A inovação está relacionada com a capacidade de introduzir novos processos, produtos ou ideias na organização. E é aqui que o papel mediador das universidades assume aqui uma função determinante. A este propósito recordo as palavras da cientista Maria do Carmo Fonseca, proferidas na entrega do PRÉMIO PESSOA 2010: “precisamos de massificar a formação científica em Portugal, não para que todos sejam cientistas, mas para que quase todos sejam contaminados, nas suas mais diversas profissões, pela curiosidade e a ambição de ver o que nunca foi visto e fazer o que nunca foi feito”.

É ainda necessário que o erro de falhar não seja um estigma mas que seja encarado como um degrau no caminho do sucesso. Convém não esquecer que Silicon Valley é um cemitério de ideias, mas que também é isso que representa uma das suas maiores forças.

Até porque convêm não esquecer que “o que não nos mata, torna-nos mais fortes” (Nietzsche).

terça-feira, 5 de julho de 2011

Troika obriga os clubes a jogarem à porta fechada


Se analisarmos os recursos públicos que o Estado tem de afectar para que se realize um jogo de futebol entre os “três grandes” (Porto, Benfica e Sporting), concluímos que é insustentável manter este nível de despesa. Aquando da realização do último jogo de futebol entre o F.C. Porto e o S.L. Benfica comecei a escrever um artigo com o título “Troika obriga os clubes a jogarem à porta fechada” porque pensei que só com a intervenção externa é que seria possível alterar o escândalo a que todos temos assistido. Por falta de tempo acabei por não escrever o artigo. Contudo as recentes, e louváveis, decisões da Assembleia Geral extraordinária da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, realizada no passado dia 27 de Junho, motivaram-me a regressar a este assunto.

Com certeza concordará comigo que não faz sentido que a realização de um jogo de futebol coloque em risco a segurança de pessoas e bens, quer no interior, quer no exterior e imediações dos complexo desportivos, bem como, alterações da ordem pública, principalmente as que são motivadas pelas rivalidades entre as claques e os adeptos das equipas.

Recordo que no final da Taça de Portugal a PSP teve de impedir que os adeptos entrassem no estádio com adereços, tendo inclusive informando os adeptos que, no caso de existir “confusão entre eles”, iria agir com determinação. Para este jogo o Comando Metropolitano da PSP de Lisboa destacou um conjunto de efectivos de várias unidades e divisões:
 Divisão Policial da área em patrulhamento apeado, auto e à civil,
 Equipas de Intervenção Rápida
 Unidade Especial de Polícia
 Divisão de Investigação Criminal
 Divisão de Trânsito
 Equipas de Inactivação de Engenhos Explosivos e Segurança em Subsolo
 Unidade Metropolitana de Informações Desportivas
Infelizmente este jogo não foi uma excepção. Em todos os jogos que envolvem os “três grandes” as autoridades policiais tem de montar um dispositivo que permita garantir a ordem pública e que, entre outras acções, inclui o acompanhamento das claques desde a cidade de origem até ao local de estacionamento dos autocarros e depois até ao Estádio através de uma caixa de segurança (!). No caso dos jogos entre o F.C. Porto e o S.L. Benfica são mais de 600 kms de “acompanhamento”.

Recordo, ainda, que no jogo entre estas duas equipas realizado em Abril os títulos dos jornais do dia seguinte foram unânimes ao afirmar que se tratou de uma “Batalha Campal”. Pois fique a saber que se tratou da maior operação policial de sempre num jogo de futebol em Portugal, tendo sido destacados 800 agentes, várias dezenas de veículos e um helicóptero.
Ridículo.

Na última assembleia geral extraordinária os clubes de futebol profissional deram um importante passo para alterar esta situação ao aprovarem um conjunto de normas que são um sinal de responsabilidade e serenidade para todos os adeptos que gostam de ir aos estádios, como é o meu caso. Assim, e a partir da próxima época, um clube cujo adepto ou simpatizante tenha provocado, por arremesso de objectos, e que obriguem esse jogo a estar interrompido mais que cinco minutos, serão punidos de imediato com a realização de um a três jogos à porta fechada. Em segundo lugar, os clubes decidiram penalizar fortemente as declarações contra elementos da equipa de arbitragem desde a sua nomeação até à hora do jogo. A penalização para esta infracção subiu cinco vezes.
Louvável.

Um sonho de 280 hectares


O novo governo já tomou posse pelo que é oportuno apresentar contributos para a governação.

Um dos desafios que se coloca a Portugal é encontrar ideias inovadoras e criativas nos domínios da sustentabilidade e, simultaneamente, conseguir exporta-las para o resto do mundo. A minha proposta é fazer da Petrogal, em Leça da Palmeira, uma área de investigação, produção, comercialização e capacitação de projectos inovadores que contribuam para o desenvolvimento sustentável.
Esta proposta incluí a criação de um centro de alta tecnologia em energias renováveis, ou seja, um centro com produção de energia solar, eólica, ondas, biomassa e microgeração, mas também de investigação e desenvolvimento com aplicação directa em espaços dedicados ao ensino, à habitação, à indústria, ao comércio e ao lazer. Um ecossistema inovador que cônjuge todas estas valências de uma forma integrada e sustentável. Temos 280 hectares com um enorme potencial para criar um centro de referência mundial na área das energias renováveis.

São várias as vozes que ao longo dos anos se tem manifestado contra a permanência da Petrogal em Leça da Palmeira, entre as quais o Arquitecto Alcino Soutinho que, não há muito tempo afirmou, “já não faz sentido a permanência da refinaria da Petrogal em Leça da Palmeira”. Inclusive já foi proposto um referendo à população sobre a continuidade da refinaria no concelho de Matosinhos. Naturalmente foram muitas as vozes contra esta possibilidade, o que é facilmente justificado pelo facto de existirem muitas famílias que dependem da Petrogal.

De qualquer forma o que é relevante é que sejam discutidos cenários alternativos à situação actual e que a população do concelho de Matosinhos tenha a oportunidade de participar nesse processo.
Infelizmente só são considerados cenário alternativos quando acontecem acidentes na refinaria, como foi o caso do fatídico ano de 2007. Na altura foi prometido, nomeadamente pelo Presidente da Câmara de Matosinhos, que parte do investimento de 600 milhões de euros que a Galp iria fazer na refinaria de Leça da Palmeira fosse aplicada no controlo das emissões atmosféricas. A verdade é que, enquanto cidadão do concelho de Matosinhos, não recebi nenhuma informação sobre este investimento, nem tão pouco sobre o impacto que as emissões atmosféricas da Petrogal (e já agora da Jomar e das descargas no Porto de Leixões) têm na população do concelho de Matosinhos. Será que é exigir muito?




De qualquer forma fica a proposta para a reflexão das partes interessadas.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sócrates, o campeão.


No passado dia 5 de Junho os portugueses exprimiram a sua opinião. O PSD ficou a 8 deputados da maioria absoluta e com uma vantagem de 10,5% sobre o PS, o que já não acontecia há mais de 20 anos. O PSD venceu em mais de 4/5 dos concelhos e 130 destes passaram das mãos do PS para as do PSD. Na verdade o PS de Sócrates perdeu 510 mil votos em relação às legislativas de 2009 e ficou muito longe da maioria absoluta conquistada em 2005, na altura com 45% dos votos contra os 28,8% de Santana Lopes. Sócrates termina a sua liderança como Secretário-geral do PS com uns humilhantes, e desnecessários, 28,1%, sustentados numa estratégia de “terra queimada” e, simultaneamente, da aplicação da teoria do “ou eu, ou o caos”.
Convém ainda referir que nestas legislativas o PS beneficiou do processo de desagregação eleitoral do Bloco de Esquerda evitando, assim, que o saldo negativo do PS de Sócrates fosse mais humilhante.

Mas esta derrota é apenas mais uma a juntar a tantas outras que José Sócrates coleccionou ao longo dos seus mandatos de secretário-geral do Partido Socialista. Se não vejamos:
Desde 2005, ano em que foi eleito Secretário-Geral, realizaram-se em Portugal sete eleições e, por incrível que pareça, o PS só ganhou duas, nomeadamente as legislativas de 2005 e as de 2009. Recordo que os opositores foram, respectivamente, um Primeiro-Ministro demitido, Santana Lopes, e uma senhora que representa a antítese do que deve ser um candidato, Manuela Ferreira Leite.

José Sócrates começou o seu mandato com uma derrota nas autárquicas de 2005 tendo elegido, apenas, 109 presidentes de câmara, contra os 158 do PSD. Em 2006 tivemos eleições presidenciais e o candidato apoiado pelo PS, Mário Soares, obteve 14,34% dos votos contribuindo, assim, para eleger Cavaco Silva. Falhou, uma vez mais, a estratégia de José Sócrates.
Em 2009 o PS começou por perder as eleições para o Parlamento Europeu tendo, com 26,58%, ficado em segundo lugar. O PSD, com 31,71%, foi o grande vencedor da noite eleitoral. Mas o ano de 2009 não poderia acabar sem mais uma derrota para o PS. Assim, nas autárquicas de 2009, o PSD elege 139 presidentes de câmara e o PS elege 132. É certo que o PSD teve a ajuda do CDS (coligações), mas isso não é mais do que o resultado de uma boa opção estratégica por parte dos seus líderes.

Por ultimo tivemos as eleições presidenciais de 2011 e a estratégia do PS de Sócrates volta a falhar. O resultado do apoio do PS a Manuel Alegre foi uns míseros 19,76%.

Assim, e tendo em atenção os factos apresentados, é legitimo afirma que José Sócrates, enquanto secretário-geral do Partido Socialista, foi um campeão de derrotas.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Como poderemos avaliar o trabalho dos deputados?


Para analisarmos o trabalho qualitativo dos deputados, nomeadamente aquele que é feito na Assembleia da República, temos de analisar as intervenções em plenário, os requerimentos, os projectos-lei, os projectos de resolução, as declarações de voto, e os relatórios apresentados.
Sugiro que comecemos por analisar a prática da utilização de cada uma destas “ferramentas”.

Requerimentos: habitualmente os requerimentos são assinados por vários deputados sem que exista grande participação na sua elaboração. A maior parte das vezes são feitos pelos assessores, com base na agenda mediática da comunicação social.

Relatórios: na maior parte dos casos também são feitos pelos assessores já que não tem qualquer consequência na avaliação do trabalho dos deputados.

Projectos-lei: também são feitos pelos serviços de assessoria e normalmente quem os assina são os deputados que fazem parte da direcção de um grupo parlamentar ou de um partido. É coisa para VIP pelo que quase sempre não há um grande envolvimento dos mesmos.

Intervenções: as intervenções em plenário estão quase sempre relacionadas com a actividade do deputado na sua comissão parlamentar e, ou, com a sua capacidade de influenciar o líder do grupo parlamentar.

Nesta altura poderá estar a pensar que realmente os deputados fazem muito pouco e que a imagem do hemiciclo, normalmente vazio, é desoladora. A este propósito gostaria de esclarecer que só existem duas possíveis situações para a ausência do deputado: Presença ou Falta. Acontece que a falta encobre realidades e situações muito diversas que vão desde a doença até ao impedimento por razões pessoais.

Para saber mais informações sugiro uma visita ao site da Assembleia da Republica, nomeadamente aos canais:

Presenças e Faltas dos Deputados às Reuniões Plenárias: http://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/reunioesplenarias.aspx

Fiscalização Política: http://www.parlamento.pt/Fiscalizacao/Paginas/default.aspx

Actividade Parlamentar e Processo Legislativo: http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/default.aspx

Fico a aguardar a sua opinião.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Vamos votar no escuro


À hora a que estou a escrever este artigo, e de acordo com o Portal do Eleitor (http://www.portaldoeleitor.pt), faltam 4 dias, 15 horas e 35 minutos para que possa exercer o meu direito de voto nas próximas eleições legislativas.

No próximo sábado, dia 5 de Junho, quando formos votar, vamos ser confrontados, logo à entrada da mesa de voto, com uma lista de candidatos a deputados que concorrem ao abrigo de uma programa eleitoral. Se tivermos em conta a forma como decorreu a campanha eleitoral é natural que os eleitores estejam indecisos sobre qual é a lista de candidatos a deputados que terá capacidade para gerar a solução de governo que Portugal precisa. Assim, é legitimo querermos saber qual é o perfil dos candidatos a deputados, qual foi o seu percurso profissional, se existe algum conflito de interesses para o desempenho do cargo, bem como o que propõem fazer no caso de serem eleitos. Recordo que é a Assembleia da República, através do voto dos deputados, que terá de “legitimar” o novo Governo.

Numa consulta ao portal de eleitor descobri informações bastante interessantes e organizadas sobre a forma de “resposta a questões dos eleitores”, como por exemplo, “estou recenseado?”, “onde se vota?”, “como se vota?” e “posso votar na internet”. Descobri, ainda, bastante informação sobre a legislação que é aplicada aos actos eleitorais, bem como o histórico de resultados de eleições anteriores e, até, a Revista Eleições que, sem mais, remete para o site http://www.dgai.mai.gov.pt/.

Na minha pesquisa para encontrar alguma informação sobre os candidatos a deputados, nomeadamente os que ainda não o são, fui consultar algumas “ligações úteis” disponibilizadas pelo Portal do Eleitor, nomeadamente o site da Direcção-Geral da Administração Interna, o da Comissão Nacional de Eleições, o da Assembleia da República e o do Tribunal Constitucional.

No site da Comissão Nacional de Eleições descobri as listas com os nomes dos candidatos a deputados de todos os Distritos, com excepção do Círculo Eleitoral do Porto e do Círculo Eleitoral de Lisboa que estão “em preparação”. Para além desta ultima questão, o que considero lamentável é o facto de não existir nenhuma referência ao perfil dos candidatos.

Tal como na lerpa, o famoso jogo de cartas, é caso para dizer que, uma vez mais, vamos apostar no escuro.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Política de verdade – versão 2011


De acordo com o artigo 53.º da Lei Eleitoral da Assembleia da República, o período da campanha eleitoral inicia-se no 14.º dia anterior ao dia designado para as eleições que, no caso das legislativas de 2011, foi a 22 de Maio, e finda às 24 horas da antevéspera do dia designado para as eleições, ou seja, o próximo dia 3 de Junho.

Estranho. E eu que pensei que já estávamos em campanha eleitoral.
Já assisti a debates na televisão entre os líderes partidários. Já li sondagens publicadas. Em quase todos os blocos noticiosos assisto a iniciativas e comícios partidários com apelo ao voto, mas, segundo a Comissão Nacional de Eleições, não estivemos em campanha eleitoral. É por estas e por outras que não se respeitam as leis em Portugal.

Fique então a saber que, por exemplo, até o dia 18 de Maio as Juntas de Freguesia devem estabelecer os locais de afixação de cartazes, fotografias, jornais murais, manifestos e avisos. Mas a verdade é que ninguém respeita.
E que até o dia 5 de Junho os partidos políticos estão proibidos de fazer propaganda política, directa ou indirectamente, através dos meios de publicidade comercial (seja isso lá o que for). Mas, uma vez mais, ninguém cumpre.
Para respeitar os eleitores e diminuir o índice de rejeição aos partidos políticos, é necessário que estes comecem por respeitar as regras estabelecidas.

Também é verdade que todos os partidos políticos dizem que querem fazer uma campanha construtiva e pela positiva evitando, assim, o afastamento dos eleitores. Acontece que não a isso que temos assistido nesta campanha. Aliás, não a isso que assistimos em todas as campanhas eleitorais.
Há falta de argumentos surgem o insulto e a demagogia. E, particularmente nestas eleições, surgem os “argumentos fáceis”. Até parece que os partidos do “arco do governo” deixaram de ser sociais-democratas e passaram a ser de extrema-direita.
Os argumentos que apresentam são “basistas” e são utilizados com o objectivo de criarem ruído para que não se discutam as propostas dos seus programas eleitorais.
Mas a verdade é que também não adiantaria que discutissem detalhadamente as propostas e as promessas que propõem aos eleitores porque, uma vez no poder, encontram sempre desculpas para não cumprirem o prometido.
Haja paciência.

Mais vale mal acompanhado, do que só


“Nenhum de nós é tão inteligente quanto todos nós juntos”. Esta frase de Warren Bennis resume uma verdade inquestionável mas que as empresas se esquecem com muita frequência.

Vários autores defendem a importância de disseminar um pensamento criativo nas empresas, nomeadamente através da análise, da combinação de conceitos e da utilização de equipas multidisciplinares para a resolução de problemas. Quando se trazem os conceitos e os problemas para um território novo, e desconhecido, ganha-se uma nova perspectiva.

Quando trabalhei na área da publicidade, e tinha de apresentar uma campanha a um cliente, procurava sempre a opinião do “Sr. do café do lado”, da “senhora de limpeza” ou da “telefonista”. Estes “cidadãos comuns”, dado o distanciamento do problema (execução da campanha), conseguiam descobrir pequenos erros de informação/ comunicação que tinham passado despercebidos a toda a equipa. Este precioso contributo, neste caso na fase final do projecto, permitia corrigir erros mas também melhorar o trabalho final e, no caso dos contributos da equipa interna, disseminar um pensamento criativo.

A criação de uma equipa multidisciplinar, ou seja um grupo de pessoas com vários níveis e especializações, reunidos sob orientação de um especialista, subentende a definição de um ponto de encontro para a colaboração entre todos, bem como a eliminação de barreiras interpessoais de comunicação, sempre com o objectivo de serem atingidos os objectivos definidos. O valor dessa equipa irá decorrer da qualidade individual de cada um dos seus elementos, mas também do cruzamento que, progressivamente, cada um vai criando com os demais.

Considero a criação de equipas multidisciplinar um valor inquestionável para qualquer instituição, uma vez que permite que cada elemento contribua com o seu saber, a sua área de especialização, e muitas vezes “apenas” com o seu “senso comum”, potenciando, assim, os vários recursos existentes numa empresa. E mesmo que o contributo não seja considerado válido para a resolução de um problema, poderá sê-lo para a resolução de um outro num futuro próximo. Por isso “mais vale mal acompanhado, do que só”.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Afinal o tamanho conta


O acesso à informação é politicamente menos relevante do que o acesso às conversas. Assim, e para efeitos de score eleitoral, é mais importante ter presença mediática, “ser notícia”, do que ter o melhor programa de governo. Vem isto a propósito da cobertura jornalística da pré-campanha e da campanha eleitoral das legislativas 2011.

A RTP1, a SIC e a TVI, os três canais generalistas que têm obrigações de serviço público, decidiram realizar um ciclo de debates com os líderes dos cinco partidos com assento parlamentar. Mas esqueceram-se dos partidos sem assento parlamentar e que concorrem às eleições de 5 de Junho. Recordo que nas próximas eleições vão estar em disputa dezassete “partidos políticos”, sendo que apenas nove apresentaram candidaturas aos vinte e dois círculos eleitorais: PS, PSD, CDS-PP, BE, PCTP-MRPP, Movimento Esperança Portugal (MEP), Movimento Partido da Terra (MPT), Partido Popular Monárquico (PPM), Partido Nacional Renovador (PNR) e a CDU (PCP e PEV).

Após a apresentação de vários protestos, os três canais generalistas chegaram a acordo para a realização de um conjunto de entrevistas e um debate entre os representantes dos “partidos políticos” sem assento parlamentar,

Tendo em conta que as campanhas eleitorais se fazem para e pela televisão, estar em debates é fundamental. Assim devem ser asseguradas, nomeadamente pela Comissão Nacional de Eleições e pela Alta Autoridade para a Comunicação Social, as condições de acesso, em situações de igualdade, a todos os partidos políticos que apresentem candidaturas em todos os 22 círculos eleitorais. Ou seja, todos os “partidos políticos” que reúnam esta condição de representatividade devem ter a oportunidade de debater entre eles, pelo que devem ser encontradas formas criativas de o assegurar. Desta forma estaremos a criar condições para que os portugueses possam votar com total liberdade de escolha, uma vez que tiveram, pelo menos no que diz respeito ao serviço público de televisão, o acesso à mensagem de todos os “partidos políticos” de âmbito nacional que concorrem às eleições.

Até porque convém não esquecer que os partidos com assento parlamentar um dia já foram pequenos.

A culpa é do Governo?


O título deste artigo não é novidade nenhuma mas serve para resumir alguns casos de más práticas na gestão de serviços públicos e privados, e demonstram que a culpa “só morre solteira” porque deixamos que assim seja.

Portugal já só consegue financiamento externo e com taxas acima dos 10%. Recordo que foi o próprio Ministro das Finanças a afirmar que era insustentável recorrer a financiamentos acima dos 7%. Estamos, com dificuldade, a tentar obter um empréstimo de 80 mil milhões de euros para pagar os compromissos já assumidos. O governo pediu a demissão e a Assembleia da República foi dissolvida. Dia 5 de Junho temos eleições.
Face a este cenário era expectável que ganhássemos juízo, que acordássemos para a dura realidade e corrigíssemos o rumo. Infelizmente os sinais não são animadores.

Começou com a tolerância de ponto. Tolerância quer dizer que ninguém vai trabalhar…conceito estranho. E assim foi, sobretudo na administração pública que existe para servir os cidadãos. Vem isto a propósito da minha tentativa frustrada de, durante 5 dias (no último fim-de-semana prolongado), ir a uma piscina municipal.
Estes equipamentos são geridos por empresas municipais, essa coisa estranha que foi criada para gerir melhor os activos dos municípios e que acabam por replicar o que de pior tem a administração pública. Na quinta-feira só funcionaram da parte da manhã e sexta-feira, sábado, domingo e segunda estiveram fechados. Recorri então aos operadores privados, julgando eu que ao menos estes precisavam de clientes. Mas enganei-me. Fiz cinco tentativas e apenas consegui encontrar dois ginásios (com piscina) abertos ao sábado (os restantes dias estavam fechados). Num dos casos pediram-me € 15 euros por duas horas de utilização (para mim e para o meu filho de dois anos), e um outro que me ofereceu um dia gratuito de utilização.

Um outro episódio, igualmente interessante, aconteceu-me quando tive que recorrer à urgência de um Hospital Privado e, na recepção, assisti a um telefonema surreal. Uma cliente estava a pedir ao recepcionista que lhe indicasse o caminho para o Hospital. Nada mais simples, pensei eu. Mas não. O recepcionista achou que não fazia parte das suas funções dar indicações sobre a melhor forma da cliente se dirigir ao Hospital e, desta forma, contribuir para pagar os ordenados dos funcionários que estavam ao serviço. Face ao pedido da cliente o funcionário limitou-se a dizer: “quando chegar ao Marquês pergunte como chegar até aqui”. E desligou.
Suspeito que esta também deve ser uma daquelas empresas que atribui aos outros o facto de não terem clientes.

Somos rápidos a exigir os nossos direitos e muito lentos a cumprir os nossos deveres. Somos rápidos a atribuir as culpas aos outros e muito lentos a assumir as nossas responsabilidades.

É por estas e por outras que não saímos da “cepa torta” e que chegamos ao absurdo de termos que ser governados por outros.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Centros de Emprego passam a ser geridos por privados


O Instituto do Emprego e Formação Profissional é o serviço público de emprego nacional que tem como missão promover a criação e a qualidade do emprego, bem como combater o desemprego, através da execução das políticas activas de emprego e formação profissional. Mas a verdade é que faz muito pouco para cumprir a sua missão, se não vejamos:

Quando alguém fica numa situação de desemprego dirige-se ao Centro de Emprego da sua área de residência. Faz a inscrição com o objectivo de ser mais fácil conseguir encontrar um emprego e, enquanto não o consegue, para receber o subsídio de desemprego.

O IEFP tem uma base de dados onde ficam registados todos os dados do desempregado incluindo a última profissão exercida ou a que resulta da sua área de formação. Desta forma será mais fácil enquadrar o profissional em futuros processos de recrutamento. Aqui começam os problemas do candidato a um novo emprego. É que as opções de profissões da base de dados estão desactualizadas e reflectem a realidade profissional do início dos anos 90. Por exemplo se quiser que o seu perfil corresponda a Técnico de Marketing não vai conseguir e terá que se contentar com Técnico de Relações Públicas. Mas existem casos bem mais dramáticos, como são os dos designers ou dos Especialistas em Arquitectura de Redes Informáticas que logo são despromovidos a Informáticos.

Relativamente ao pagamento do subsídio de desemprego, como é sabido, não é da responsabilidade do IEFP mas sim da Segurança Social.

Se quiser formação profissional vai ter que a obter através dos Centros de Formação Profissional ou das empresas que se dedicam à Formação Profissional.

Se é formador e está desempregado, também não é através do IEFP que vai conseguir emprego. A base de dados dos formadores do IEFP só serve para fazer perder o tempo dos formadores. Quem contrata os formadores são os Centros de Formação Profissional e estes só têm a obrigação de recorrer a esta base de dados quando esgotarem a própria base de formadores, o que nunca acontece.

Se quiser adquirir competências que o capacitem a encontrar um emprego, tais como, saber escrever um curriculum, uma carta de apresentação, competências de marketing pessoal, acesso a redes de networking, também não as vai conseguir através do IEFP. Mas vai ser obrigado a ir a reuniões onde lhe vão explicar quais são os procedimentos para justificar a não comparência na sua junta de freguesia onde passa a ter que se apresentar de 15 em 15 dias.

Então o que resta. O que fazem verdadeiramente os Centros de Emprego? Gerem processos, papeladas e um sem número de burocracias que nada têm a ver com a missão do IEFP. Assim sendo talvez fosse interessante começarem a pensar em entregar esta missão a empresas de recrutamento privadas. Talvez assim fosse possível diminuir o número de desempregados. Fica o desafio para o próximo governo.

Os candidatos a deputados passam a ser escolhidos pelos militantes.

O défice da participação política e cívica, bem como o da militância partidária, torna urgente a realização de um conjunto de reformas que restitua a confiança à Política e ao papel das instituições democráticas.

Em situações de crise a Política deve ser um instrumento de coesão e de mobilização dos cidadãos no esforço colectivo para vencermos os difíceis desafios com que nos deparamos.

Recordo que a cinco dias das eleições presidenciais foi publicada uma sondagem de opinião, encomendada pelo think-thank Projecto Farol, que demonstrava a desconfiança generalizada dos portugueses na classe política. De acordo com o estudo, 94% dos portugueses dizem não confiar na classe política, 90% nos Governos, 89% nos partidos políticos e 84% na Assembleia da República.

Os partidos políticos têm de funcionar com maior transparência e criarem mais espaços para a participação dos militantes, como é o caso da elaboração das listas de candidatos a deputados à Assembleia da República. Ao analisarmos a forma como são seleccionados estes candidatos surgem várias interrogações sem resposta: quais são os critérios que estão subjacentes à elaboração das listas de deputados dos partidos políticos? Porque é que uma determinada pessoa é escolhida e outra preterida? Quem faz a avaliação de um candidato? Quais são os critérios e quem os define?
Neste quadro de referência proponho que os partidos políticos desenvolvam, rapidamente, mecanismos que estimulem a participação dos seus militantes na escolha dos candidatos a deputados.

Um Partido que pretenda liderar os destinos do País tem de ser inovador nas soluções e nos processos de decisão política que oferece aos cidadãos. Assim, em vez de atirarem as culpas para cima do “sistema”, nomeadamente com o adiamento da reforma do sistema político, comecem a fazer o trabalho de casa e a construir propostas que aproximem os cidadãos dos partidos políticos.

O Primeiro de Janeiro, 6 de Abril de 2011

quinta-feira, 31 de março de 2011

Enviar currículos ou criar o próprio negócio?




Uma atitude empreendedora pode contribuir para a criação líquida de emprego, bem como para aumentar a competitividade e o crescimento económico de um país.
Portugal precisa que sejam criadas novas empresas com capacidade de lançarem projectos criativos e inovadores. Mas existe um grande obstáculo a este desafio: é mais fácil enviar currículos do que correr o risco de criar o próprio negócio.

Ao contrário do que muitos defendem, penso que temos em Portugal as condições estruturais favoráveis para a criação de novas empresas. Se não vejamos: fontes de financiamento diversificadas para a criação de novas empresas, incentivos fiscais de descriminação positiva para a criação de postos de trabalho, enumeras iniciativas públicas, sobretudo regionais, de apoio ao empreendedorismo, excelentes casos de incorporação da formação sobre temáticas ligadas ao empreendedorismo no sistema educativo, um aumento exponencial da cooperação entre o ensino superior e o empresarial (o que permite o acesso das empresas a melhores tecnologias e processos), uma diminuição das barreiras à entrada, como por exemplo a recente eliminação da exigência de capital mínimo para a constituição de uma empresa e, não menos importante, um acesso facilitado a infra-estruturas físicas, como por exemplo as incubadores, os parques empresariais ou os clusters.
Penso, assim, que o problema não está nas condições estruturais favoráveis para a criação de novas empresas mas nas normas sociais e culturais vigentes que desencorajam as iniciativas individuais para a criação de novos negócios e actividades económicas. O conceito de estabilidade está associado à manutenção do mesmo emprego durante um longo período, temos uma cultura de dependência associada a uma enorme aversão ao risco e uma imagem negativa do empresário e do trabalho.
E são estas normas que levam a que, por exemplo, muitos desempregados optem por enviar currículos durante um ano, em vez de investirem esse tempo na tentativa de criarem o seu próprio negócio.

O empreendedorismo vai muito além da criação de negócios. Reflecte uma atitude e uma forma de pensar a sociedade e o papel que cada um pode ter na construção de um país melhor. E a questão é: vai continuar a enviar currículos ou começar a pensar em criar o seu próprio negócio?

quarta-feira, 23 de março de 2011

Conceição “à Rasca”



A Conceição tem 57 anos, exerceu a actividade de trabalhadora do serviço doméstico, (vulgo empregada doméstica), teve um contrato de trabalho celebrado por escrito com uma entidade empregadora, em regime de tempo inteiro (que foi comunicado à Segurança Social), auferiu um salário real mensal entre 70% e 250% do IAS e declarou os seus rendimentos para efeitos de IRS. Actualmente está desempregada mas não tem direito a subsídio de desemprego porque tem mais de 50 anos.

Esta situação foi colocada à Segurança Social que confirmou a impossibilidade de receber o subsídio de desemprego e sugeriu que requeresse o Rendimento Social de Inserção, ou seja, o apoio para os indivíduos e famílias mais pobres. Acontece que a Conceição não reúne as condições para aceder ao Rendimento Social. Foi então apresentada uma solução alternativa: requerer a pensão de velhice antecipada. Analisados os requisitos para ser possível receber esta pensão, chegou à conclusão que também não pode usufruir deste “benefício”, porque:
 Não tem 30 anos de descontos aos 55 anos;
 Não exerce uma actividade profissional de natureza penosa ou desgastante (mineiros, trabalhadores marítimos, profissionais de pesca, controladores de tráfego aéreo, bailarinos, trabalhadores portuários, bordadeiras da Madeira, trabalhadores aduaneiros, pilotos de aviação civil);

Acresce, ainda, que só pode requer a reforma aos 65 anos. Está desesperada e desiludida com os poderes políticos, sobretudo com o “legislador” que se lembrou das bordadeiras da Madeira (profissão de desgaste) mas não das empregadas domésticas.

Resumindo:
A Conceição tem 57 anos. Trabalha desde os 12 anos de idade. Tem cerca de 20 anos de descontos. Não tem acesso ao subsídio de desemprego, ao rendimento social de inserção, à pensão de velhice antecipada, à reforma antecipada, nem à reforma. Está desempregada e quer continuar a exercer a sua actividade profissional, mesmo sem direitos ou protecção.

Tudo isto vem a propósito de algumas exigências feitas pela chamada “Geração à Rasca” que focaliza o seu discurso muitos mais nos direitos do que nos deveres, e que se esquece de muitos situações como a que aqui é relatada. É caso para dizer: “pobre do menino licenciado que não consegue encontrar um emprego na sua área”.

Celso Guedes de Carvalho
23 de Março de 2011

Empresas e Administração Pública passam a ser obrigadas a responder a todas as candidaturas de emprego



Precisamos de dar mais valor às pessoas e contribuir para humanizar as organizações, gerindo os recursos humanos como centros de geração de valor e não como centros de custo. Não se trata aqui de um estilo de gestão, mas sim da implementação de princípios que poderão ajudar as empresas, a atrair, desenvolver e manter os melhores profissionais e, com isso, tornarem-se mais competitivas.

A necessidade de encontrar factores competitivos e diferenciadores tornou-se fundamental para que as organizações consigam sobreviver. Uma das abordagens à Responsabilidade Social das Organização procura responder a este desafio defendendo que a implementação de acções socialmente responsáveis pode tornar as empresas mais competitivas e bem sucedidas.

A Responsabilidade Social das Organização é encarada como uma forma de estas demonstrarem que actuam no mercado de forma sustentável e que valorizam a sua dimensão social, nomeadamente respeitando a comunidade que a constitui. Mas para avaliarmos a responsabilidade social das organizações temos de verificar quais são os comportamentos que adoptam voluntariamente e não apenas os que são impostos legalmente. E a questão subjacente é a seguinte: que princípios e normativos éticos devem as organizações seguir? Que actuações são mais correctas para o bem da sociedade?

Penso que uma das actuações que as organizações devem corrigir é a forma como gerem o relacionamento com todos aqueles que se candidatam aos processos de recrutamento. Não faz sentido que as organizações continuem a “mal tratar” estes candidatos quando simplesmente não fazem o follow-up das candidaturas. Uma das preocupações das organizações deveria ser a de “tratar bem” quem se interessa pela actividade que desenvolvem e que demonstram o interesse em dar o seu contributo. E é tão simples de o fazer…basta enviar um e-mail.
Para facilitar a implementação deste procedimento proponho o seguinte texto de resposta: “No âmbito da sua candidatura gostaríamos de agradecer a disponibilidade e interesse manifestado para colaborar com a nossa organização. Apesar do interesse que nos suscitam os seus elementos curriculares, lamentamos informar que não foi seleccionado para exercer a função a que se candidatou. Agradecendo uma vez mais a sua atenção, realizamos votos de sucessos profissionais e pessoais”.


Será que é preciso legislar no sentido de obrigar as Empresas e a Administração Pública a responder a todas as candidaturas de emprego?

Celso Guedes de Carvalho
16 de Março de 2011

Desempregados passam a ter preferência nas admissões da função pública


Todos os dias são admitidos novos colaboradores na função pública com base em critérios que protegem grupos instalados e que impedem o acesso dos desempregados a esses empregos públicos. Para além de outras razões e do atropelo à igualdade de oportunidades, é a actual situação do País que exige a alteração destas situações.

Actualmente é dada prioridade no preenchimento das vagas de emprego público aos trabalhadores que possuam uma relação jurídica de emprego público por tempo indeterminado. E, no caso dos militares em Regime de Contrato (que tenham prestado serviço efectivo pelo período mínimo de cinco anos) é dada preferência, em caso de igualdade de classificação final, nos concursos externos abertos em qualquer dos serviços e organismos da administração central, regional e local, incluindo institutos públicos.

É essencial continuar a reforma do mercado de trabalho de forma a torná-lo mais ágil na contratação de desempregados. Sendo certo que é do crescimento da economia que depende a criação de emprego, há iniciativas que podem e devem ser adoptadas, nomeadamente as de desbloqueio dos mecanismos impeditivos da entrada dos jovens na vida profissional.

Um serviço público que reflicta a diversidade da comunidade que serve será mais capaz de prestar serviços de qualidade aos cidadãos. Qualquer organização que pretenda ter uma perspectiva de futuro tem de procurar optimizar o contributo potencial da sua base de recrutamento na globalidade.

Propõem-se, assim, que os desempregados inscritos nos Centros de Emprego passem a ter prioridade no preenchimento das vagas de emprego público, face aos trabalhadores que possuam uma relação jurídica de emprego público, e a ter preferência, em caso de igualdade de classificação final, nos concursos externos abertos em qualquer dos serviços e organismos da administração central, regional e local, incluindo institutos públicos.

Adicionalmente propõem-se uma reflexão sobre a criação de incentivos para que a administração local passe a contratar desempregados inscritos nos Centros de Emprego. Recordo que as empresas são contempladas com incentivos à contratação, sem termo, de desempregados inscritos nos centros de emprego há mais de seis meses (ou 9 meses no caso de terem mais de 40 anos) através da concessão de um apoio directo no montante de 2500 euros. Será que a administração local não estaria interessada neste incentivo?

Celso Guedes de Carvalho
8 de Março de 2011

Voluntariado Político




Os partidos políticos são organizações chave na nossa democracia. São o espaço por excelência onde os cidadãos podem apresentar, debater e escolher ideias e soluções.
Precisamos assim de acabar com a ideia de que ´eles´, os políticos, são os responsáveis por todos os males e ´nós´, os cidadãos, as inocentes vítimas.
Acredito que a prática de voluntariado político poderá ser uma das possíveis respostas para aproximar os cidadãos da política. Mas, mais do que argumentos, apresento cinco exemplos de voluntariado político.
Comecemos pelos Orçamentos Participativos. Esta ideia propõe um novo modelo de governação da cidade que convida os cidadãos a intervirem em parte do orçamento de uma comunidade. É uma prática de democracia directa e voluntária que já funciona em mais de 15 órgãos autárquicos, inclusive na Câmara Municipal de Lisboa onde já vai na 4.ª edição e com uma dotação anual de cinco milhões de euros.

O segundo exemplo é a candidatura Cidadãos por Lisboa. Recordo que em 2007 realizaram-se eleições intercalares para o Município de Lisboa e, apesar das doze candidaturas concorrentes, ouve 62,6% de abstenção. Esta candidatura, liderada por Helena Roseta, foi a quarta mais votada e conseguiu obter 10,2% dos votos, um resultado superior ao obtido pelo CDS e pelo PCP.
Mais recentemente tivemos a surpreendente candidatura de Fernando Nobre à Presidência da República. Sem apoios partidários conseguiu mobilizar cidadãos anónimos e uma excelente equipa de voluntários e obter 593.142 dos votos.

E porque não ensinar política às crianças (8 aos 14 anos)? Jorge Sampaio, ex-Presidente da República, provou que é possível. Escreveu O meu livro de política com respostas a questões simples e com o objectivo de despertar o interesse pelo exercício da cidadania junto dos cidadãos que vão decidir o futuro. Porque o fez? Por dever cívico.
O último exemplo de voluntariado político é o movimento Adere, Vota e Intervém dentro de um Partido. O seu promotor, João Nogueira Santos, acredita que se não participarmos nos partidos políticos acabamos por ser governados pelos menos habilitados.

Estes “gritos de cidadania”, no seu conjunto, deixaram uma herança, implementaram ideias transformadoras, permitiram promover a democracia e a participação cívica, e contribuíram para a apresentação de propostas que influenciaram o comportamento dos políticos, a agenda, as decisões e a própria representação eleitoral.

Mas há sempre alguém que não quer participar. Que arranja desculpas e que opta por desperdiçar o potencial do seu contributo. Acredito que não é o seu caso pelo que fico a aguardar o seu testemunho de voluntariado político, das suas acções de intervenção comunitária realizadas de forma desinteressada e que contribuíram para melhorar a organização e o comando da sociedade.

Celso Guedes de Carvalho
1 de Março de 2011